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O QUE É MUSICOTERAPIA?

A Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) a fim de promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A Musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e restabelecer funções psíquicas do indivíduo, para que ele possa alcançar um melhor bem-estar e qualidade de vida.

Através do ritmo, melodia, harmonia e movimentos corporais, a música atua nos processos cerebrais, auxiliando o sistema imunológico, hormonal, psicomotor e cognitivo. Tanto a Musicoterapia acolhe a pessoa e a faz se sentir segura, como a incita a sair da zona de conforto no contínuo movimento da vida.

Tem-se notado em pacientes com Alzheimer, que quando submetidos aos estímulos musicais, são capazes de recordar versos e melodias, mesmo esquecendo o nome dos filhos. Ou seja, a música continua a agir em áreas do cérebro, permitindo o desenvolvimento de suas funções e a expressão do conteúdo emocional. Mesmo em idosos saudáveis, a prática auxilia no mantenimento dos processos mentais.

Música é vida!

BENEFÍCIOS DA MUSICOTERAPIA COM IDOSOS

  • Melhora a autoestima e qualidade de vida;
  • Estimula a memória;
  • Desenvolve autoconfiança e sociabilidade;
  • Contribui no tratamento da ansiedade e depressão;
  • Exercita as habilidades cognitivas e a coordenação motora;
  • Auxilia no manejo da dor;
  • Permite a expressão das emoções e a ressignificação de vivências traumáticas.

No ritmo da felicidade!

UMA VIVÊNCIA DA MUSICOTERAPIA NA SAÚDE MENTAL

Recordo que em 2009, realizei o Estágio de Familiarização no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, e lá vivenciei algo muito marcante envolvendo a música e o ser humano. Foram cerca de 15 dias vivendo a rotina daquele lugar, acompanhando os serviços de reabilitação, as oficinas de arte, auxiliando até na alimentação dos pacientes com comprometimento físico-mental, enfim, uma das experiências mais enriquecedoras que tive durante a formação em Psicologia. (Na época, já estava a elaborar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que tratava da Arteterapia como meio de canalização das emoções humanas). 

Não hesitei em levar para aquele Hospital meu velho violão. Talvez fora a coisa mais sensata que fiz! Quase todos os dias, reuníamos os pacientes das alas psiquiátricas, e cantávamos..., até algumas danças improvisadas aconteciam. O corpo ganhava movimento e memórias eram trazidas à mente iluminando os rostos. Chegamos até a organizar um Show de Talentos naqueles dias, com palco, microfone e tudo... Vi pessoas renascerem por sobre seus diagnósticos, vi pessoas que não conseguira ver até então, embora já tivesse olhado para elas várias vezes. Vi o ser humano transbordando em vida, em lágrimas verdadeiras e sorrisos mais reais ainda. 

Vale dizer que aquele lugar, historicamente, fora palco de muitas injustiças, decorrentes de uma concepção no qual a pessoa doente era segregada, submetida a terapias de choque, sangrias, jatos d’água, camisas de força, e em muitos casos eram abandonados por suas famílias. A vasta maioria daqueles pacientes, inclusive, moravam ali há 20, 30 anos.

E agora vamos aonde quero chegar. Certo dia, estávamos em roda, com umas 15 ou 20 pessoas, cantando ao som do violão. Era um grupo bastante heterogêneo, com algumas pessoas saudáveis, mas que continuavam a morar ali, sendo aquela a sua realidade imediata, e outras, com suas particularidades no que diz respeito a transtornos psíquicos. Dentre elas, havia uma mulher de meia idade, com severo comprometimento em suas funções cognitivas, de sociabilidade, enfim, não conseguia sequer verbalizar qualquer palavra que fosse. Lembro que ao ouvir o som da música, do canto, do violão, ela veio arrastando sua cadeira lentamente, atravessando pelo centro da roda, até ficar muito próxima a mim, e ali ficou como que hipnotizada, apenas ouvindo, sem mover os lábios. A sua musicalidade parecia ser a única função que ainda preservava integramente. Essa paciente não conseguia exprimir o que pensava ou sentia, não tinha qualquer capacidade de relacionamento interpessoal, e a música mostrava-se como a sua única ponte para o mundo.

Em suma, aquela experiência revelou-me que a música podia alcançar as profundezas do ser humano, como um balde que desce até um escuro poço d’água, e que busca ali novamente um pouco de vida.

Aquela experiência impactou minha vida profissional, e foi grande responsável pela minha imersão na área da Musicoterapia, trabalhando há longos anos com grupos de idosos e crianças, com pacientes oncológicos e com palestras musicadas.

Obs: com o uso de todas as medidas de segurança em função da Covid 19.